sábado, 21 de maio de 2011

Entrevista/Jean Willys: ‘Vou sentir saudade do CORREIO’

O agora deputado federal pelo Psol do Rio de Janeiro se despede da sua coluna no jornal baiano


O jornalista agora é deputado pelo Psol

Redação CORREIO

Durante dois anos, o jornalista e escritor Jean Willys  alimentou as edições do CORREIO com um ingrediente que sabe manusear como poucos: a provocação. Mas não a que é utilizada por incendiários imbuídos do simples desejo de carbonizar ideias e discussões.
Polêmico e contestador, o agora deputado federal pelo Psol do Rio usava a coluna que publicava às sextas-feiras como trincheira da reflexão contra o tédio mental do senso comum, através da defesa dos direitos dos homossexuais, ou da crítica ao gesso que uniformiza pensamentos.
Por conta de sua atividade no Congresso Nacional, o CORREIO perde - talvez temporariamente - a verve irônica do garoto pobre de Alagoinhas, intelectual por inquietação, e que ficou conhecido pela participação vitoriosa no Big Brother Brasil. Mas, antes da despedida, Jean Willys deixa de presente aos leitores um pouco do que faz sem medo: provocar.   

Umas de suas bandeiras na Câmara é a defesa da união civil entre casais do mesmo sexo. Há ambiente favorável a propostas como essa no Parlamento?
Na verdade, estou dando um passo adiante. Vou propor a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) do casamento civil. O Judiciário já está em vias de dar um parecer favorável à união estável, que vai valer em todo Brasil. A gente vai propor a alteração da Constituição.

Se o estado é laico e o casamento é civil, e os homossexuais têm todos os deveres civis, eles devem ter também todos os direitos civis. Quanto à existência de um ambiente propício, acredito que a eleição de uma presidenta sinaliza uma mudança de visão. Mas, se eu conseguir apenas pautar o debate, já será um ganho. Aliás, minha presença da Câmara é um ganho. Sou o primeiro homossexual assumido, não homofóbico e ligado o movimento LGTB (Lésbicas, Gays, Transgêneros e Bissexuais) a chegar ao Congresso.

E Clodovil não conta?
Clodovil era gay assumido, mas era homofóbico e tinha rancor contra sua própria condição, se colocava contra as bandeiras históricas do movimento. Por isso, fiz essa distinção.

Sente algum preconceito na Câmara?
Se há, não é expresso de modo que eu possa perceber. Os deputados, de uma forma geral, têm uma relação excelente comigo. O único que vejo como opositor é Jair Bolsonaro (deputado federal pelo PP do Rio), que se coloca  contra as minhas bandeiras e até contra a minha presença no Congresso.

De onde vem essa oposição pública feita por Bolsonaro?
 O Bolsonaro é um cara que caricaturiza o ódio que parte da sociedade tem a quem não se enquadra no modelo de gênero definido pela sociedade. Mas é um ódio que a gente vê em todos ao lugares.
Qual foi sua posição em relação ao salário mínimo?
O Psol é um partido de oposição. Agora, é preciso distinguir o que é oposição de esquerda, a que o Psol faz, da oposição de direita, que é a do DEM e PSDB. Nossa bancada propôs uma emenda para reajustar o mínimo para R$700. Colocamos na emenda que esse aumento seria retroativo para janeiro e fevereiro. Por isso, a Mesa Diretora da Câmara considerou nossa emenda inconstitucional. O curioso é que os deputados concederam para eles um aumento no apagar das luzes, e que foi retroativo. Eles podem fazer isso, mas para o trabalhador não. 

Houve incômodo em ser comparado a outros candidatos celebridades, como Tiririca e Romário?
Não posso admitir que repórteres envolvidos na cobertura política cedam  à ignorância, a não ser que seja algo orquestrado. Que editorialmente pensem: “Nós queremos desautorizar esse candidato, por que ele representa bandeiras que não podem chegar ao Congresso”. Do contrário, é pura ignorância me comparar a Tiririca e a Romário. É o jornalista não se prestar sequer a pesquisar minha biografia. Mas acho legítimo que Romário, Tiririca e qualquer outro se candidate. A Constituição garante a qualquer cidadão se colocar como representante dos interesses do povo. O que acho vergonhoso são as capitanias hereditárias que dominam o Congresso Nacional. Pessoas que saíram do ostracismo, mas que a força da grana dos seus pais garantiu um lugar aqui. Se 1,3 milhão de pessoas votaram em Tiririca, isso não pode ser reconhecido como mero equívoco. Tem que se entender o tipo de imagem que o Congresso passa para o imaginário popular.

Por que se candidatar pelo Rio de Janeiro e não pela Bahia, onde você nasceu?
Primeiro, por uma questão prática. Moro no Rio há seis anos. Mudei meu domicilio, meu título de eleitor e me filiei ao Psol do Rio. Também não era candidato a Assembleia Legislativa, era candidato a deputado federal, que embora represente o estado dele, está na Câmara, na verdade, para defender os interesses do povo brasileiro. Por outro lado, devolvo a pergunta. Se fosse candidato pela Bahia, eu seria eleito?

Tem assistido o Big Brother Brasil?
Não tenho mais tempo. A legislatura, as aulas, são atividades que me impedem de ver televisão como antes. Uma coisa que gosto mais que reality show é novela, e não tenho tempo mais para ver nenhuma.

O fato de ser ex-BBB lhe incomoda?
De jeito nenhum. Se me incomodasse, não teria ido ao programa. Só acho lamentável quando tentam me reduzir a isso de má-fé. Tenho o maior orgulho de ter participado do programa. Foi maravilhoso, me abriu portas profissionais. Não só pelo programa, mas por que sou Jean Willys.

E a literatura? Quando vai ressurgir o Jean escritor?
Estou em negociação com a editora Leia para publicar meu quarto livro, que tem o titulo provisório de Bahia, Minha Preta. É um conjunto de minhas melhores crônicas. Algumas das quais escrevi para o CORREIO ao longo desses dois últimos anos.

Do CORREIO, é a segunda despedida, já que o jornal teve seu nome no quadro de repórteres... 
(interrompendo) Minha relação com o CORREIO é engraçada, de ida e volta. Foi o lugar onde cresci profissionalmente como jornalista, onde aprendi a fazer jornalismo bem. Estou me despedindo do CORREIO de novo por que a legislatura me impede de manter a coluna. Eventualmente, no futuro, se minha careira como parlamentar se encerrar neste mandato, fico feliz em saber que há espaço para o Jean Willys jornalista e escritor. Mas, vai me dar uma saudade grande. Adorava escrever a coluna e receber e-mails no dia seguinte. Muitos a favor, outros contra, mas sempre gerando o debate.

Quem vai sentir mais falta: Jean Willys dos leitores ou os leitores de Jean Willys?
(risos) Não sei, os leitores é que vão se manifestar. Sei apenas que vou sentir muita falta, porque era prazeroso escrever crônicas para o jornal, algo que dá um retorno sobre o que se escreve, se há reflexão, ódio ou amor. É o que sempre repito: não vim ao mundo para fazer sucesso, vim para fazer história.


segunda-feira, 16 de maio de 2011

Entrevista ACM Neto: ‘É preciso perder o medo’

Líder do DEM diz que, se a oposição não for às ruas, será derrotada

Jairo Costa Júnior | Redação CORREIO

O senhor concorda com as análises que apontam para uma crise de identidade na oposição?
 É preciso entender que o modelo de oposição desenhado pelo PT faz parte de um momento da história do país. É impossível você reproduzi-lo no presente. Era uma oposição completamente irresponsável, destrutiva, que foi inicialmente contra a Constituição de 1988, contra o Plano Real, contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. Hoje, não é assim. Diria que temos um oposição mais qualificada, voltada para o debate político, que é capaz de confluir nas teses que, a nosso ver, são convergentes, mas que também tem grande capacidade de opor resistência na hora necessária. O problema é conseguir sair dos corredores do Congresso e ir para as ruas. Ela só vai conseguir capilarizar o seu discurso e nacionalizar suas ideias quando perder o medo de ir para as ruas. Esse é o grande desafio nos próximos anos.

E o que impede a oposição de sair das paredes do Congresso?
Primeiro, é preciso algumas pessoas perderem o medo de ir às ruas, às universidades, às portas de fábricas, de panfletar em praça pública. Gente que fica sempre acomodada com o estilo antigo de fazer política, dependente de vereador, de prefeito, de líderes. A oposição não voltará ao poder se ficar focada e presa às velhas e tradicionais lideranças. Até por que elas estão ao lado de quem está no poder, independente do partido que governa.

Não há necessidade de alinhar essa visão entre os partidos que compõem a oposição? Há quem, como o senador Álvaro Dias (PMDB-PR), defenda que o momento agora é da ação no Congresso, através da cobrança e da fiscalização...

Isso é um equívoco absoluto. E é por esse tipo de visão que o PSDB perdeu duas eleições para presidente. Foi o caso de Geraldo Alckmin em 2006 e de José Serra em 2010. Ambos saíram da cadeira de governador de São Paulo meses antes da eleição É preciso começar a sair às ruas imediatamente. Não que seja hora de apresentar um nome para a disputa presidencial de 2014. O tempo certo é depois das eleições de 2012.

E a partir de agora, quais são as diretrizes para encontrar uma via alternativa?
Ter um discurso nacional e práticas locais. As principais lideranças da oposição têm que correr o país, não podem aguardar a véspera da eleição presidencial. Claro que a ação no Congresso também é importante. Nunca a oposição foi tão pequena e nunca o governo teve tanto trabalho para votar matérias. Esse começo de ano é o menor em produção legislativa dos últimos anos, porque estamos tendo a capacidade de obstruir, de resistir. É um trabalho que está sendo bem feito, mas ele também foi bem feito em 2006 e 2010, e não deu resultado.

Uma das questões mais discutidas atualmente é a emergência da classe C. A oposição tem prestado atenção nela?
O Democratas está agora contratando uma pesquisa qualitativa. Nós vamos fazer um grande levantamento em cada região do país para investigar com profundidade a cabeça dessa nova classe média. 

Diz-se que a classe C é muito voltada para as questões materiais, para as conquistas, mas do ponto de vista dos costumes teria um perfil mais conservador...
As pesquisas quantitativas feitas nos últimos tempos, e temos várias delas, mostram um perfil eminentemente conservador do brasileiro em geral. Não é apenas uma característica da nova classe média. Vai da classe A à classe E. Mas, para conhecer melhor a classe C é preciso destrinchá-la. O Democratas, no esforço de reposicionar a comunicação e a linguagem do partido, de modernizar as práticas, de criar novos instrumentos de conexão com a sociedade, tem como primeiro passo  justamente fazer uma investigação completa sobre como pensa essa nova classe média, seus anseios, esperanças e sonhos, o que pretendem para seus filhos, o seu papel na política.

Isso significa deixar de discursar para as outras classes?
Jamais vamos excluir qualquer camada da sociedade. O que significa é que precisamos estratificar a linguagem. Existe um tipo de linguagem para essa nova classe média e outro para a antiga, que também difere das camadas mais pobres. Depois dessa investigação inicial, vamos fazer um trabalho parecido em outras classes, para ter um discurso completo, plural.

Qual o papel das redes sociais para a oposição nesse cenário?
Com a expansão do twitter, orkut e facebook, as redes sociais passaram a ser ferramentas importantíssimas e estratégicas de comunicação. E para a oposição, eu diria que elas são até mais importantes, porque quem está no governo tem os meios tradicionais de se comunicar: a propaganda oficial, os atos públicos.  No caso da oposição, para que ela possa dar constância e transmitir nacionalmente sua mensagem, tem que usar as redes sociais. O Democratas está contratando uma equipe específica para isso.

Essas novas formas de atuação política estão sendo conversadas entre os partidos? Há resistência?
Há uma compreensão de que cada partido tem que cumprir o seu papel, fazer o seu dever de casa. Onde puder haver convergência, vamos fazer. Os três principais partidos da oposição - DEM, PSDB e PPS - têm consciência de que não se pode deixar a coisa correr frouxa como aconteceu no passado. Isso inclui o alinhamento dos discursos, das estratégias e da ação política e eleitoral. Isso tem data marcada para acontecer, já existe uma agenda para ser cumprida, que é exatamente a eleição municipal de 2012.

Essa agenda é comum para todos os partidos?
Tem que ser, se não a oposição vai estar fadada a perder novamente em 2014. Houve uma coisa que aconteceu e que foi muito prejudicial em 2010: as disputas internas entre os partidos da oposição em 2008.   Em quase todo o Brasil, DEM e PSDB rivalizaram na eleição municipal. Não houve um comando da direção partidária para aproximar as estratégias e as ações eleitorais dos dois partidos. A visão agora é completamente diferente, tanto da nova direção do Democratas, quanto da direção do PSDB. A ideia não é obrigar ninguém a nada, é criar um ambiente que torne esse alinhamento natural entre os partidos. Qual a tese? Onde o Democratas for mais forte, o PSDB vai com ele, e vice-versa. E onde o PPS for mais forte, os outros dois partidos vão juntos com ele.

O senhor acha que a oposição subestimou a capacidade do PT de se manter no poder?
Acho que sim. E por duas vezes. A primeira  foi no fim de 2005, no auge da crise do mensalão, quando vozes da oposição - e não me incluo dentro delas, pois fui voz dissonante e vencida -, majoritárias, acharam que era hora de colocar panos quentes, que Lula estava fadado a perder em 2006. O segundo momento foi quando aparentemente Lula estava sem um candidato natural, pois os principais nomes do partido haviam sido atingidos pelo mensalão, Antonio Palocci e José Dirceu. Acharam que vencidos os oito anos do governo Lula, ele não teria capacidade de fazer seu sucessor. Dilma Rousseff também foi subestimada muitas vezes. Acharam que ela não tinha carisma, que nunca tinha disputado eleição e que ia perder.